Portugal e Brasil apresentam-se como países díspares em termos de consumo de intervenções cirúrgicas de foro estético, pelo que se apresenta interessante conhecer quais os fatores que mais influenciam o consumo deste tipo de procedimento cirúrgico nos dois mercados. O estudo em questão tem como objetivo avaliar a influência da autoestima, da autoavaliação do corpo e do materialismo na aceitação à cirurgia estética no Brasil e em Portugal, na visão cross cultural.
Dois questionários foram elaborados e, após procedimentos de validação, tiveram seu link disponibilizado em redes sociais. Obtiveram-se duas amostras de natureza não probabilística, de tamanhos 217 e 148, compostas por respondentes das cidades de São Paulo e Porto, respectivamente. Foram incluídos no questionário indicadores para mensurar autoestima, autoavaliação do corpo, materialismo e aceitação à cirurgia plástica estética, além das variáveis de controle idade e gênero.
São revisados os conceitos de autoestima, autoavaliação do corpo, materialismo e aceitação à cirurgia plástica estética (CPE). Os principais estudos que guiaram a mensuração desses construtos neste trabalho são: Rosenberg (1965) e Dini, Quaresma e Ferreira (2004) para autoestima; Marsh e O’Neill (1984) para autoavaliação do corpo; Richins (2004) e Ponchio e Aranha (2008) para materialismo; e Henderson-King e Henderson-King (2005) e Swami et al. (2011) para aceitação à CPE.
Os principais resultados indicaram: (i) o efeito de gênero – as mulheres aceitam mais a cirurgia plástica estética do que os homens; (ii) o efeito país – os brasileiros aceitam mais a CPE do que os portugueses; (iii) fraca associação entre autoestima e aceitação à CPE; (iv) fraca associação entre autoavaliação do corpo e aceitação à CPE; e (v) forte evidência de que pessoas mais materialistas aceitam a CPE mais do que as menos materialistas.
A modelagem do construto aceitação à cirurgia plástica estética respeitando suas três dimensões ajuda a explicar diferenças entre achados anteriores no tocante à associação entre autoestima e autoavaliação do corpo e consumo de cirurgia estética. Quanto ao aspecto cross-cultural, evidenciam-se diferenças em aspectos de natureza psicológica entre consumidores de Porto e São Paulo que ajudam a explicar a popularidade dos procedimentos estéticos em ambos os países.
|