Argumentamos neste ensaio que as relações mundo-da-vida e sistema fundamentais para a teoria social de Habermas não são problematizadas profundamente nos debates sobre gestão, inclusive no âmbito da gestão social. Colocado isso, apresentamos que os conceitos de mundo-da-vida e sistema (em conjunto) representam uma chave de leitura sociológica e epistemológica do locus das ações gerenciais dialógicas defendidas pela gestão social.
Nosso esforço delimita a relação entre o mundo-da-vida e o mundo-do-sistema conforme estabelecido por Jürgen Habermas. Concomitantemente, lançamos a seguinte questão norteadora: Quais são os loci da gestão social e como estes loci estão situados e podem ser problematizados na relação mundo-da-vida e sistema? Desta forma, objetivamos neste ensaio situar e problematizar o locus da gestão social nas relações entre o mundo-da-vida e o sistema estabelecidas por Habermas.
Contextualizamos as discussões acerca da distinção mundo-da-vida e sistema por meio das concepções presentes na Teoria do Agir Comunicativo [1981] e em Direito e Democracia: entre facticidade e validade [1992]. No primeiro momento destacamos a importância das visões do mundo-da-vida e do sistema e apresentamos a tese da colonização do mundo-da-vida. Na segunda parte abordamos brevemente a importância da sociedade civil, da esfera pública e da deliberação pública.
O artigo é desenvolvido em forma de ensaio. O ensaio é coerente com um texto que pretende problematizar uma temática no âmbito da gestão social e se destaca pela possibilidade de ser uma discussão que não busca apresentar um modelo fechado, sendo capaz de se autoproblematizar. Além disso, referenciamos uma vasta bibliografia em gestão social e textos importantes das áreas de ciência política, sociologia e filosofia, tendo por intuito fundamentar nossa abordagem.
Encontramos com base na relação mundo-da-vida e sistema três concepções principais do locus da gestão social: i) o mundo-da-vida como locus; ii) encruzilhadas entre o mundo-da-vida e o sistema como locus e; iii) qualquer esfera. Tensionamos que pensar a gestão social somente como mundo-da-vida ou somente como sistema oferece limitações à compreensão das relações entre as diversas esferas sociais, da vida concreta. Uma proposta relacional amplia a capacidade analítica da gestão social.
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